10 outubro, 2012

PAULO LEMINSKI



Paulo Leminski Filho nasceu em Curitiba em 1944. Dono de uma extensa e relevante obra, da qual tinha um jeito próprio de escrever poesia, com poemas breves, haicais, e um gosto por trocadilhos e ditados populares. Foi professor em cursos pré-vestibulares e era faixa-preta em judô. Escreveu músicas, biografias e romances, fez traduções, contribuiu para documentários no cinema, novela e histórias em quadrinhos e foi um agitador cultural.



Em 1962 publicou no boletim do colégio uma crônica sua, “Inverno”, a qual expõe sua relação com a cidade e seu clima particular.
No I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda, realizado em Belo Horizonte em 1963, veio a conhecer os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, com os quais tinha grandes afinidades sobretudo em razão da leitura de Cantos, poemas de Ezra Pound traduzidos por Haroldo de Campos. Foi precisamente naquele autor que Leminski encontrou elementos para a sua poética, como por exemplo, o rompimento de tradições literárias e aprendeu com Haroldo o conceito de “tradução criativa” ou “transcriação” que praticaria nas traduções que realizou.
O ano de 1964 foi o marco inicial de sua carreira ao ser convidado por Augusto de Campos para publicar cinco poemas na revista Invenção. Em 1966 classificou-se em primeiro lugar no II Concurso Popular de Poesia Moderna, promovido pelo jornal O Estado do Paraná. O tema abordado deveria ser Imprensa e Leminski selecionou um conjunto de sete poemas curtos, sem títulos, apenas com numeração.Catatau foi seu primeiro romance. Publicado em 1975 o autor levou oito anos para concluí-lo, denominando-o de “prosa experimental”. Em 1979 saiu a publicação de 40 Clics em Curitiba, em folhas soltas, com fotografias de Jack Pires e poesias-legenda de Leminski. Em 1984 publica seu segundo romance, Agora é que são elas, que sofreu alguma crítica diante do êxito de seu primeiro romance, até mesmo por ele, que afirmou não ter atingido o objetivo que pretendia.
Na área da crítica, Leminski escreveu inúmeros ensaios sobre poesia, cultura, arte, literatura, da clássica à contemporânea, de diversos autores dos quais viria a fazer traduções de obras. Em seus ensaios predomina uma linguagem clara, acessível e coloquial, com seu humor habitual. Seus textos foram publicados em jornais da época e posteriormente vieram a ser publicados em um conjunto de textos denominado Ensaios e Anseios Crípticos, de 2011, reunindo também outros textos, editados anteriormente em Anseios Crípticos e Anseios Crípticos 2. Inerente a isso estão as traduções de autores como Petrônio, Alfred Jarry, John Fante, Samuel Beckett, Lawrence Ferlinghetti, John Lennon, Yukio Mishima e James Joyce. Alguns dos ensaios publicados seriam apresentações destes autores e obras que também viriam como prefácios ou posfácios nos livros.
Leminski escreveu biografias como de Cruz e Souza, do poeta japonês Bashô, de quem era um grande admirador e de onde veio seu gosto pelos haicais, do revolucionário russo Leon Trotski e de Jesus Cristo.
Uma de suas paixões, a música, está ligada à sua obra proporcionando uma discografia rica e variada. Verdura, de 1981, foi gravada por Caetano Veloso no disco Outras Palavras. Fez várias parcerias como, por exemplo, com o grupo A Cor do Som, Blindagem, o grupo A Chave e a banda de punk rock Beijo AA Força. Escreveu várias letras que foram musicadas por parceiros como Gilberto Gil, Moraes Moreira, José Miguel Wisnik, Wally Salomão, entre outros.
Sua poesia teve influência dos poetas concretistas Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari e conviveu também com Régis Bonvicino, o qual publicou dois volumes com correspondências que lhe enviou, Uma carta uma brasa através/Cartas a Régis Bonvicino e Envie meu dicionário/Cartas a Régis Bonvicino e alguma crítica. Outra influência presente em sua obra é da geração beati norte-americana, um manifesto pela liberdade poética.
Seus primeiros livros de poesia foram Não fosse isso e era menos/ não fosse tanto e era quase e Polonaises, publicados pelo próprio Leminski em 1980. Posteriormente, alguns poemas desses livros foram incluídos na coletânea Caprichos e Relaxos, de 1983, obra que mostra a pluralidade e multiplicidade do autor entre 1963 e 1983, reunindo, por exemplo, haicais, textos semióticos e poemas de natureza concreta, tendo sua apresentação feita por Haroldo de Campos.
No ano seguinte, publicou mais dois livros de poemas: Haitropikais, em parceria com Alice Ruiz, e Um milhão de Coisas. Distraídos Venceremos, de 1987, é o último livro de poemas do autor publicado em vida, recebido com grande entusiasmo pela crítica. Considerado pelo poeta como uma continuação espontânea de Caprichos e Relaxos, os poemas continuam com os jogos de palavras que dão sentidos diferentes a uma mesma expressão. São textos em que Leminski acreditava ter alcançado seu âmbito tão desejado: a abolição (não da realidade, evidentemente) da referência, através do que ele chama de rarefação.
O livro de poemas seguinte a Distraídos Venceremos é La vie en close, de 1991, título que Leminski brinca com a expressão francesa “la vie en rose”, quando se está vendo a vida por lentes cor de rosas. É um livro póstumo, contendo vários poemas inéditos que têm uma linguagem fácil, sonora e fluida. Nestes poemas percebe-se o pressentimento que tinha em relação ao pouco tempo de vida que tinha.Há ainda mais dois livros de poesias, Winterverno, livro de versos e desenhos em diálogo produzido em co-autoria com João Suplicy e O ex-estranho, publicados em 1994 e 1996 respectivamente. Usando da simplicidade com as palavras e do humor, escreveu para o público infanto-juvenil Guerra dentro da gente, um livro de fábula, publicado em 1986 e A lua foi ao cinema, publicado em 1989. Antes de sua morte, Leminski deixou ainda 39 textos inéditos, entre eles crônicas e contos, selecionados para uma publicação que ele chamaria de Gozo Fabuloso, que foi concretizada em 2004.
Leminski veio a falecer precocemente em 7 de junho  de 1989, em sua cidade natal, em consequência de uma cirrose hepática que o acompanhou por vários anos. Em agosto, em sua cidade, foi inaugurado um espaço para suportar grandes espetáculos em uma pedreira desativada, em sua homenagem o lugar se chama Pedreira Paulo Leminski.

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